quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

água turva

da beira do rio não tinha a visão do outro lado. era uma imensidão que só. água barrenta, cheia de raiva. os olhos caminhavam pela espuma, adivinhavam  pedras e procuravam fora o que não se via dentro. o barulho era forte, som de rachadura, de quebra de acerto. som de fim de mundo.

respirava pesado, sem ouvir o peito. sentia medo, era isso. ou não, mas parecia isso. as coisas iam resmungadas da cabeça pro resto das partes daquele corpo cansado. tanta coisa, tanta coisa, tanta coisa!
tinha a absoluta certeza de que o tempo não resolveria nada. olha o tamanho do rio? tempo é pra seres imensos.

não sabia mas aquele rio era seu. era sua fúria. era seu rebento. jamais esteve em silêncio. rangia pedras, cortava a terra. calava o barulho dos outros. sua voz era imensa, seu teto era o mundo. não havia final nem começo, sua história era toda corrente. e seguia.