quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

sobre o que segue seu curso

a cobra do sonho na terra do sono.

sonhava a cabocla ser outra metade e era em seu corpo o desejo um passeio, tão forte ele vinha que o verde brilhava, na relva dos olhos floresta do amor. no corpo moreno duas almas unidas, no céu  tinha um arco de cores tão lindas. pra cabocla o tempo era uma mulher, uma árvore sagrada, raiz desse mundo. ela plantada no centro de tudo, seu olho na testa mirando pra mim. eu desaguei num choro de amor. na fonte da calma uma poça formei, minhas lágrimas viraram frutas e a fome-saudade foi alimentada. cabocla já dorme, que a terra lhe cansa, comendo sua força pra segurar tudo. eu não zelo mais seu sono de perto, mas é certo que rezo pra que ela descanse, que acorde mais forte amanhã. a semente da troca brotou uma planta pequena, um cacto que defende o espaço que quer, e aflora no tempo que escolhe pra si. de longe eu me encanto com a força da flor e entendo o que cabe aos poucos.

aos poucos.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

sobre a parte que sempre falta

dez pra meia noite.
pegou o zarco rumo a leste com uma tempestade no peito. tinha chovido pouco no dia, mas a bagunça do encontro mexeu que só. era trovão de ter perto tanta gente preenchida. era um buraco cheinho de amor e vontade de amar. no caminho de casa pensou que a saudade era já, e recitou de cabeça a lista de nomes que ela trazia. deu nó a memoria de tanta gente que carregava consigo. na madrugada o busão corre mais e se deu conta de que o ponto era o próximo quando descolou o olhar do celular. puxou a cordinha e desceu pra avenida vazia. no meio da via um homem, peita vermelha, bermuda e chinelinho, sacola na mão, meio bambo, tinha cachaça na mente e não só, chamou pra conversa e sentaram os dois na calçada. jefferson, quinze anos de rua, falou da vida, dos filhos, da ex mulher. falou das tantas cidades que já tinha cruzado, pediu cigarro "diferente esse aqui, desse eu nunca fumei, pra que lado acende?" pediu o isqueiro e demorou na conversa, queria era se dizer, ser visto, falar da solidão. ali pensei nos nomes de novo, falei baixinho todos eles. olhando a solidão de frente senti um frio na coluna, uma falta em excesso, pode alguém sentir isso? um buraco preenchido de medo agora. que nó mais difícil de desatar não é não? quando nos despedimos ele me disse que queria me ver de novo e eu que queria ver ele bem. a conversa, os encontros do final de semana, os amigos de longe, o coco pegado que a polícia pediu pra parar, a cidade vazia, a carona de zica que a amiga  amada me deu, cantando com força até o terminal. tudo isso é de encher, nada disso é vazio e porque é o vazio que sobra maior no fim do corre? sei não. sei só que o caminho é longo e ter tanta gente por perto é o que me segura em cima da parte quente do mundo, mas a solidão é um trilho que acompanha a estradinha da vida, tem um trem que volta e meia passa e ai só resta esperar pra atravessar.
a espera é foda.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

saudade azul

eu acho que meu coração anda ficando cada vez mais azul. foi forte o trovão da noite e o apito no sonho chamava pra formar a linha de caixa. eu fui, e chorei. chorei no rufo e no rulo e chorei por ver do ladinho de mim tanta gente entregando o corpo pro tambor e cantando com a fé de quem sente o calor da explosão de uma estrela. o senhor lá na frente era só energia e vibrava uma luz intensa naquele corpo marcado pela história do tempo. meu mestre cantou um lamento com a voz mais sentida que eu já escutei e fez tremer a terra de dentro.

sábado, 19 de novembro de 2016

é o ruim do mundo

fizeram o menino deitar lá na rua sabia? não tinha porquê, não sei o que passa com esses moço de farda, parece que esquecem que tem gente dentro deles. é o ruim do mundo. não sei. sei que o menino era bom, fazia mais era brincar na rua até tarde sabe? ia la em casa pedir salgado, as vezes ficava pro almoço, quando não brigava com meu mais novo. riso fácil, jeito pequeno de quem pede carinho com o olho. ali deitado na rua, pra que? que fez o menino pra isso? veio da escola agorinha. é o ruim do mundo. a boca da fome comeu a gente e cuspiu esses homem de farda. que fardo. o peso da bota no corpo dos outros, o sangue dos outros no sorriso deles. porque? essa dor que só cresce é o tempo. encolhe a gente que corre encostado no muro. pra que? é raiva mesmo aqui dentro sabe? da falta da força. força que eu vejo de sobra no trato dos homem com qualquer menino.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ressaca

no fim do corredor o sapato solto no pé, o peito cheio de ar quente, tropeçou, virou a esquina da mente e caiu de novo. confusão do caralho, as vezes batia as ideia, entrava em confronto, uns três ou quatro nós pra desfazer e uma felicidade estranha que tinha nada que ver com sorriso.

não era vida de máquina, sabia. não queria o chocalho da rotina, gostava de ser estranho mesmo. mas aquilo era difícil. sabia que o mundo cobrava, sabia que o mundo cobrava caro. não tinha como pagar.

no fim do corredor o sol fez quina num vidro quebrado da passagem de ar e lançou na vista um calor esquisito, fechou os olhos e sentiu a explosão de luz aquecer a testa, festa. a ressaca era osso. o gosto do estômago voltou a garganta, apoiou o corpo no corrimão e levantou.

bateu. acho que bateu, ontem não tinha batido, bateu?

o vento da porta da rua no fim da escadaria beijou as canelas e ele saltou os dois últimos lances. pronto. agora era a rua.

gostava de andar. tempo de processo. a mente ficava fresquinha. cheiro de café na esquina, os olhos abriram. um sorriso nasceu sem querer.

não era vida de máquina, sabia. não tinha um plano, sabia.

isso era bom. isso era bom? sei não, mas era o que podia.
era o que cabia. pelo menos agora.

sorriu e entrou na padaria pra tomar café.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

conversa inventada com dona linete

café passado cedinho e os menino no sono. desceu a rua pra ver se encontrava lúcia em casa, mas a danada já tinha ido pro serviço, foi cedo daquela vez, de certo que queria passar na lojinha antes do horário da entrada. lúcia vivia falando daquela sandália que via na vitrine, que ia ficar linda pra ela, que era da cor do vestido de festa, que não tinha outra melhor pra caber nos "pézinho chato que eu tenho" assim que ela falava, e dava risada com um sorriso marcado do tempo e gostoso demais de se ver de perto. mas toda vez que ela ia na loja a moça dizia que já tinha ido tudo, pra ela vir mês que vem e vir mais cedo, sempre mais cedo, que a sandália saia fácil. "eu sou chata né linete? a moça já nem me deixa entrar, fala lá de dentro pra eu vir no outro mês sabe? é que eu devo incomodar demais né? assim, querendo ir em loja de madame com a roupa do serviço... eu já té tenho o dinheiro sabe? pra comprar na vista. mas eu não tenho o de resto parece. eu nem devia de querer ir lá", ai a gente brigava, que eu dizia que ela ia sim e que fosse cedo no mês que vem, que chegasse antes da loja abrir pra garantir a sandália, o cheiro de café tomava conta da sala e ela me jogava um "é né?" com dois olhinhos pretos miúdos e uma risada enorme na boca.

lúcia sempre me cuidou sabe? desde de cedo, desde antes do primeiro menino. ela que me disse o que fazer pela casa, me ensinou os caminho mais curto pros maiores problemas. eu sinto nela uma mãe que também é filha. já viu coisa assim? engraçado dizer isso junto, mas é verdade, uma mãe que também é filha. é isso que eu sinto. a gente se ajuda por aqui, que as vezes a coisa engrossa. seu heitor viaja mais de mês, lúcia reclama da falta do marido, mas reclama sorrindo, que quando ele ta por ai só vejo ela de sexta que é dia de bar, sempre de cabeça baixa, sorriso murcho e olhar perdido. ela vira menos dela. como minha finada mãe me dizia, "minha filha, não deixa homem nenhum tirar você de dentro de você" e eu deixo não. passo firme com os pequenos, que é pra não ser que nem o pai, que se sumiu no mundo, sofrem pouco os dois, que eu amo tanto que nem deixo eles na solta. vivem de jogar bola e ir pra escola. não falta nada na mesa, e quando falta, lúcia me ajuda, assim faço o mesmo por ela. é assim que se caminha a gente por aqui. olha lá moço, naquela ponta da rua mora uma senhora mais velha que nós dois juntos. vive sozinha. sai quase nada, mas é feliz. sabe como eu sei? é que quando ela inventa de passeio passa aqui pertinho da casa, bem na janela que eu fico na costura. e ela canta moço, e como canta moço! uma voz velha e linda de se ouvir. eu faço é questão de parar a costura, e eu sei que ela sabe, a máquina é velha e faz um barulho danado, eu sei que ela escuta e ai ela encosta na parede da casa e acende um cigarrinho de palha, não gosto do cheiro, mas eu deixo. deixo que eu sei que depois de fumar ela canta uma canção inteirinha só pra mim. só pra mim seu moço, eu sei que é. nunca que a gente se viu de frente, mas ela sabe da parada da máquina, eu sei do cigarro, a gente se ajuda assim. a gente caminha. um dia chamo ela pra tomar um café comigo e com lúcia, quem sabe ela não canta aquela da clementina, gosto tanto. quer café moço? o senhor ta gravando? que bom que não é foto sabe, se não ia ter que ir em casa. depois se tira foto, depois que lúcia chegar, quem sabe ela não vem com a sandália dessa vez né?

terça-feira, 8 de novembro de 2016

a palavra é

a palavra assusta, e se vem sem vento ela murcha. 
acaba na testa, tentando sair mas doendo a cabeça. 
a palavra é foda, ela nunca vem sozinha, nunquinha. 
é cultura, é osso e carne, é antes. 
a palavra é peito, é leite, olhar de mãe. 

a palavra é mãe.

terça-feira, 27 de setembro de 2016

sobre a terra que segura o chão

Uma senhora velha me disse num sonho que o corpo da gente é um abrigo pra qualquer tempestade. Enquanto a terra que segura o chão levar chuva, tudo que agora é podre, que é lixo, que é sobra, serve pra florescer. Nos olhos da velha um furacão, a voz tremia de cansada, mas seguia firme. Como quem segura o mundo ela dava passos bem lentos, mas que marcavam a terra. Eu no sonho era você e meus olhos ardiam de uma dor que eu nunca senti. No estômago parecia crescer uma planta amarga que me torcia inteira. Minhas mãos eram de troncos e toda vez que eu me abraçava machucava o corpo com os espinhos que os braços carregavam. A velha me olhava fundo. Como quem fura os outros com uma espada. A lâmina em sua língua começou a cantar, e a dor foi alucinante. Me fez cair no chão, cavar a terra, querer ser pedra. Não lembro o que ela dizia, mas sentia como se uma força me puxasse pra dentro. Um canto de implosão, de fúria. Quando no meu movimento senti o amargo da boca passar e o corpo todo molhado das lágrimas e do suor parar de tremer, me senti verde. Sequei os olhos com as mãos e haviam folhas novas nos braços galhos, os espinhos seguiam, eles nunca morrem, mas a cor dos botões que se erguiam na ponta dos dedos era tão viva. A música da velha agora me embalava, feito uma cantiga de quem nina a criança com sono. Olhei nos olhos dela e vi minha mãe, vi minhas irmãs, vi muitas velhas, uma abraçando a outra, vi também um menino, olhos nos meus, ele era eu e tinha nas mãos os dedos cheios de flores. Me sorriu de longe, e abraçou um pássaro que pousou em seus galhos. Eram tantos ali naqueles olhos. Senti um tremor na pele e percebi que meu corpo estava plantado. Meu choro, minha raiva, meu ventre na terra. A tempestade de dentro parecia encontrar seu rumo. Não parou de chover, mas os raios e o vento deixaram o céu do sonho com uma cor de início de mundo. Não sei explicar. Como se tudo ainda estivesse por criar, por ser gerado e eu era a mãe da terra nova que surgia aos poucos. Olhei em volta e a velha não estava mais lá. Não havia sumido, eu ainda sentia sua presença. Talvez ela estivesse dentro da terra, onde dormia, ou quem sabe dentro de mim. Estiquei as mãos e senti a chuva quente. É possível brotar. É possível crescer sem jardim. Posso ser minha própria floresta. Carrego as velhas em mim. Trago um menino planta no peito abraçado a um passarinho. Enquanto a terra que segura o chão levar chuva, tudo que era antes pode ser diferente aqui. Não lembro se acordei desse sonho. Mas eu era você e você era a velha.

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

bichano dos maletas

Dois olhos na noite fitam o beco. Caminham tranquilos pela escadaria. O silencio cortado pela música que ferve o corpo dos que dançam. Ali do Alto a noite é dele. Telhado quente de um dia inteiro, vento que atravessa a cidade e traz o som dos blocos, o cheiro do encontro dos corpos em pleno carnaval, tudo isso com a maresia de água salgada. A calma estica uma das patas e a preguiça desce o corpo magro. Quem sabe uma catita? Um gabiru ia ser tudos e tudos. É tarde e o dia foi quente, encheu o corpinho de sono. As orelhas perseguem o estrago que os "chama polícia" fazem pelas ruas. Canos estourados estralando nas ladeiras rumo aos bregas e as diversões de uma noite nessa cidade que se entrega a felicidade de um jeito tão bonito. Ali do telhado tudo que ele vê considera seu. Ama cada cantinho daquele colorido de escadarias, casas e festejos. O sono não vem, mas a preguiça inerente ao bichano o deixa tranquilo. Descansa ao som de Pablo, enquanto os pirraia conversam sobre as batalhas de pipa do dia.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Olha o buraco.

Ontem torci o pé num buraco ai dentro. Torci de leve, só pra lembrar que os buracos não se fecham sozinhos. A dor do torcido segue, sem inchaços, só um roxinho que o tempo cura. Acho que vou parar de fazer buracos, tem uns que abriram sozinhos mesmo, mas tem uns que ando cultivando. Parece que a gente nesse mundo veio é pra plantar buraco. Daqui a pouco o chão cai. O dilema é se uso terra ou pedrinha de rio pra tampar os danados. A terra é perfeita, funciona que só, mas pra cada buraco tapado me disseram que nasce outro. Pedrinha de rio da mais trabalho, que o rio não deixa a gente levar muitas pedras de uma vez só, elas demoram pra nascer assim redondinhas. Ai a gente leva mais tempo pra tampar de vez os buracos maiores. O bom é que sempre se tem motivo pra visitar o rio, e pertinho dele bate uma baita paz. De se esquecer de buracos.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

florada de inverno.

parece que uma árvore cresceu no meu corpo.
a seiva viva na boca, os frutos no meu estômago, minhas mãos vivem folhas, secas e carregadas de formigas.

parece que uma árvore cresceu no meu corpo.
rompeu meu silêncio, rachou meu falo e espalhou as sementes. minhas pernas são galhos e eu me atrapalho caminhando entre as raízes.

parece que uma árvore cresceu no meu corpo.
iroko, o tempo. lentamente descasco, as flores ainda demoram a chegar, mas desfruto da estação mais fria resistindo planta. existindo homem.
aprendendo devagar a germinar cuidados.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

ciclo [música]

E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.
E eu que me acostumei a jogar de dentro
preciso aprender a andar.
Tempestade e vento,
são forças que não controlam seu próprio centro.

sábado, 11 de junho de 2016

cantiga.

por entre os buracos da gente, quando se atravessa uma tempestade em silêncio, você escuta.

tem um som, um chiado baixo que se acomoda nas beiradas dos ouvidos. ele cresce devagar, se você deixar ele explode. vira cantiga e aquece.

mas é preciso silêncio. é preciso uma pausa. a pauta perde o sentido, o caminho desanda e o corpo dança com a música.

sua música. sua.

o sexo rígido, o canto rouco. a loucura que antecede a calmaria escorre pelas mãos.

o suor ressoa na pele e a melodia gruda na gente.

é só parar pra ouvir.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

amanhã eles são gente de bem.

No chão, teu corpo não descansa, ilustra a calçada de cores vivas. 
O negro, o vermelho, o roxo. 
Aquarela física da dor arrebenta na beira do asfalto ainda quente.
Já foram seis dentes da boca, o ronco de um motor e a luz do farol refletida na lágrima.
Esse fim de tarde é tão lindo, esse céu entre os postes que o olho inchado te impede de ver
enquanto teu sangue denso que atravessa a rua bem devagar seca o caminho do corpo arrastado.
Amanhã tem o povo na rua. Revolta. Tem crise ai sabe? Disseram que tão pintando o país de vermelho. 

Quem sabe teu sangue não vira notícia? Dorme agora vai, eles já foram. 
Amanhã eles vem também. Mas fica tranquilo que amanhã eles são gente de bem.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

oração de despedida

lá foi maria dormir no mundo, sábia de tudo, pássaro de asa pequena, voando baixo e comendo fruta, rezando sempre um terço lento, rosário antigo de tanto uso. lá foi maria já faz um tempo, levou sua força pra outros domínios, foi ter com o velho na beira do rio, dizer pra ele com voz fininha que a correnteza molhou o fio, mas não rompeu o elo. lá foi maria bem tranquilinha, sonhar pra sempre e mais um bocado, cantar serena uma ratoeira de braço dado com zé ferreira, num dia quente dentro do vale, e a varandinha no fim da tarde, cheia de planta querendo afago, cheia de neto mexendo em tudo. lá foi maria, mas eu fiquei, guardei no centro do meu passado uma memória que corre solta, fazendo a curva do itajaí, no médio vale do firmamento, na pedra grande pescando o tempo, ouvindo as vozes de tantos outros, servindo um prato na mesa larga, cheia de gente que é um pouca ela, que é um tanto ele, que é um monte eu. lá foi maria me encher de força, mostrar a ponte que eu nunca vi, mas que atravesso a tanto sempre. sigo sozinho juntando os fios. se na memória amarro um rio, no coração é onde ele escapa. mergulho junto. nado saudade.