lá foi maria dormir no mundo, sábia de tudo, pássaro de asa pequena, voando baixo e comendo fruta, rezando sempre um terço lento, rosário antigo de tanto uso. lá foi maria já faz um tempo, levou sua força pra outros domínios, foi ter com o velho na beira do rio, dizer pra ele com voz fininha que a correnteza molhou o fio, mas não rompeu o elo. lá foi maria bem tranquilinha, sonhar pra sempre e mais um bocado, cantar serena uma ratoeira de braço dado com zé ferreira, num dia quente dentro do vale, e a varandinha no fim da tarde, cheia de planta querendo afago, cheia de neto mexendo em tudo. lá foi maria, mas eu fiquei, guardei no centro do meu passado uma memória que corre solta, fazendo a curva do itajaí, no médio vale do firmamento, na pedra grande pescando o tempo, ouvindo as vozes de tantos outros, servindo um prato na mesa larga, cheia de gente que é um pouca ela, que é um tanto ele, que é um monte eu. lá foi maria me encher de força, mostrar a ponte que eu nunca vi, mas que atravesso a tanto sempre. sigo sozinho juntando os fios. se na memória amarro um rio, no coração é onde ele escapa. mergulho junto. nado saudade.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2016
Assinar:
Postagens (Atom)