No chão, teu corpo não descansa, ilustra a calçada de cores vivas.
O negro, o vermelho, o roxo.
Aquarela física da dor arrebenta na beira do asfalto ainda quente.
Já foram seis dentes da boca, o ronco de um motor e a luz do farol refletida na lágrima.
Esse fim de tarde é tão lindo, esse céu entre os postes que o olho inchado te impede de ver
enquanto teu sangue denso que atravessa a rua bem devagar seca o caminho do corpo arrastado.
Amanhã tem o povo na rua. Revolta. Tem crise ai sabe? Disseram que tão pintando o país de vermelho.
Quem sabe teu sangue não vira notícia? Dorme agora vai, eles já foram.
Amanhã eles vem também. Mas fica tranquilo que amanhã eles são gente de bem.