dez pra meia noite.
pegou o zarco rumo a leste com uma tempestade no peito. tinha chovido pouco no dia, mas a bagunça do encontro mexeu que só. era trovão de ter perto tanta gente preenchida. era um buraco cheinho de amor e vontade de amar. no caminho de casa pensou que a saudade era já, e recitou de cabeça a lista de nomes que ela trazia. deu nó a memoria de tanta gente que carregava consigo. na madrugada o busão corre mais e se deu conta de que o ponto era o próximo quando descolou o olhar do celular. puxou a cordinha e desceu pra avenida vazia. no meio da via um homem, peita vermelha, bermuda e chinelinho, sacola na mão, meio bambo, tinha cachaça na mente e não só, chamou pra conversa e sentaram os dois na calçada. jefferson, quinze anos de rua, falou da vida, dos filhos, da ex mulher. falou das tantas cidades que já tinha cruzado, pediu cigarro "diferente esse aqui, desse eu nunca fumei, pra que lado acende?" pediu o isqueiro e demorou na conversa, queria era se dizer, ser visto, falar da solidão. ali pensei nos nomes de novo, falei baixinho todos eles. olhando a solidão de frente senti um frio na coluna, uma falta em excesso, pode alguém sentir isso? um buraco preenchido de medo agora. que nó mais difícil de desatar não é não? quando nos despedimos ele me disse que queria me ver de novo e eu que queria ver ele bem. a conversa, os encontros do final de semana, os amigos de longe, o coco pegado que a polícia pediu pra parar, a cidade vazia, a carona de zica que a amiga amada me deu, cantando com força até o terminal. tudo isso é de encher, nada disso é vazio e porque é o vazio que sobra maior no fim do corre? sei não. sei só que o caminho é longo e ter tanta gente por perto é o que me segura em cima da parte quente do mundo, mas a solidão é um trilho que acompanha a estradinha da vida, tem um trem que volta e meia passa e ai só resta esperar pra atravessar.
a espera é foda.