quinta-feira, 17 de novembro de 2016

ressaca

no fim do corredor o sapato solto no pé, o peito cheio de ar quente, tropeçou, virou a esquina da mente e caiu de novo. confusão do caralho, as vezes batia as ideia, entrava em confronto, uns três ou quatro nós pra desfazer e uma felicidade estranha que tinha nada que ver com sorriso.

não era vida de máquina, sabia. não queria o chocalho da rotina, gostava de ser estranho mesmo. mas aquilo era difícil. sabia que o mundo cobrava, sabia que o mundo cobrava caro. não tinha como pagar.

no fim do corredor o sol fez quina num vidro quebrado da passagem de ar e lançou na vista um calor esquisito, fechou os olhos e sentiu a explosão de luz aquecer a testa, festa. a ressaca era osso. o gosto do estômago voltou a garganta, apoiou o corpo no corrimão e levantou.

bateu. acho que bateu, ontem não tinha batido, bateu?

o vento da porta da rua no fim da escadaria beijou as canelas e ele saltou os dois últimos lances. pronto. agora era a rua.

gostava de andar. tempo de processo. a mente ficava fresquinha. cheiro de café na esquina, os olhos abriram. um sorriso nasceu sem querer.

não era vida de máquina, sabia. não tinha um plano, sabia.

isso era bom. isso era bom? sei não, mas era o que podia.
era o que cabia. pelo menos agora.

sorriu e entrou na padaria pra tomar café.

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