domingo, 14 de maio de 2017

sobre ser finito

acostumei a pensar na noite  como uma pintura. um quadro que a mão do pincel respingou de luz e escuridão. na minha cidade a noite tem seus miandres, malandra ela dorme de coberta, aconchegada em nuvens esconde o jogo e cobre a lua cheia. efeito dramático danado. sempre tem um dia em que ela mostra tudo e a gente, besta que só, se encanta com a beleza feito criança. a noite é linda. hoje já não vejo mais o véu do firmamento como pintura. quando olho pra cima me imagino lá, entre as estrelas, entrando em sintonia com o vazio e enxergando no breu a beleza das coisas. na orbita do espaço tudo tem seu ciclo, tudo se move em torno de uma estrela maior. tudo se move em seu tempo. é difícil entender. acho que por isso, pra nós, é tão complicado cruzar a barreira da terra e estudar o universo. somos pequenos. assusta compreender que a dimensão da passagem por aqui é grão de areia no ciclo do cosmos. somos pequenos, mas feitos de ciclos. eles moldam a nossa finita viagem, transformam a estrada em pedra, asfalto, ferro e água. nos adaptamos pra atravessar. é bonito, dói, deixa marca, planta afetos. viver é caminhar pelo espaço no ventre de uma esfera. viver é colocar o corpo a disposição do fim e aprender com os ciclos. viver é saber-se só e finito,  é aprender que tudo se move em seu tempo.

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