O forte ficava longe da casa, os dois tinham de caminhar um tanto quanto o gato tem de esforçar-se pra pular o muro. Mas iam...
Braços dados e dedos cruzados pra nuvem nenhuma atrapalhar.
Ela era aquela, daquelas, pedaço de mundo em corpo miúdo, perdição pra olhar perdido, remela nos cantos dos olhos, doce no canto da boca e um jeito de mulher que encanta o vagabundo nas paradas de zarcão e seduz sem querer os desavisados que andam sem guarda-chuva nas vielas da cidade. Ele era o cão, o desgranhado, barba mal feita e cabelo descortado, vivia com as calças de ontem e o dinheiro amassado, mas sempre com os olhos de quem já viu muito e
ainda quer mais.
O forte ficava lá longe, mas os dois a pé descorriam, depois corriam e assim iam, sem dizer uma palavra além das que os olhares trocavam. E na chegada
da noite, com a lua alta, enquanto as estações quentes dormiam e o pé gelado era a sensação, lá estavam eles. No forte. Lá longe. Cruzando os dedos por estrelas cadentes e sonhando alto de bolsos vazios.
Tudo isso eu vi num retratinho pequeno da parede de um quarto que passei. Perdi o retrato, não voltei ao quarto, mas a história eu guardei.
domingo, 24 de outubro de 2010
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Bom este pequeno conto.Pequeno?Silva
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