segunda-feira, 8 de novembro de 2010

foto antiga

Guardados os retratos, ele pegou minha mão e colocou confortavelmente contra o próprio peito. Disse-me que fosse sua, que ele levaria meus pés ao fim da história antes de termos lido o começo, que nada mais seria igual. Disse-me que fosse sua, que o som da minha voz era vermelho, que a cor do meu pulsar era música para o ouvido dele. Disse-me que fosse sua, que na minha nudez eu era a rainha da calma, a senhora do tempo que ele sempre procurou para poder tornar-se imortal. Disse-me que fosse sua. E eu fui. Fui de novo e sempre. Renovei minha armadura de mulher com o prazer que buscava para ele. Prazer que eu não entendia direito, mas que pelas palavras doces que ficaram em minha pele naquele dia frio, enquanto contávamos pessoas nas fotos antigas, eu acreditava existir. Fielmente acreditava. Como se acredita na santa quando promessa. Eu acreditava. Fielmente acreditava. Como folha que ganha o vento com a incerteza de onde vai e com a fé de poder ir. Eu acreditava. Fielmente acreditava. Mas ele não... Partiu. Deixou-me nua, de corpo e de coragem. Deixou-me cheia da culpa que não era minha. Disse-me que mudou de planos. Que a vida segue. Me mandou um cartão da capital. Arrancou a fé do meu corpo como fazia com meus vestidos. Já não mais rainha do tempo, passei a contar pessoas, encostada na janela onde víamos aqueles velhos álbuns. Virei foto. Imortal na minha certeza de nunca mais ser dele. Perdi a cor. Guardei-me, desbotada com os pés no fim da história e entre os retratos.

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